quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Obrigado Nova Moka, e ate para o ano

Ja faz algum tempo que nao dou muitas noticias, mas acabada mais uma epoca de campo tive que voltar a deixar Sao Tome. E desta vez bem mais contrariado do que no ano passado. Esta coisa do leve leve entranha-se na pessoa... Comeco a ter medo do dia em que tiver que sair da ilha sem prespectivas de voltar.
E os principais “culpados” sao os meus vizinhos na Nova Moka, que tornam a minha estadia tao mais prazeirosa e rica. Por partilharem comigo as maravilhosas comidas que teem, pelas visitas que me alegram sempre e em especial nas alturas mais complicadas, pelas longas conversas sobre a vida em Sao Tome e por me deixarem entrar cada vez mais nas suas vidas. Duvido que sem estas companhias conseguisse fazer o meu trabalho em Sao Tome e de certeza nao seria a experiencia maravilhosa que tem sido.
O nascer do Sol visto do meu quarto na Nova Moka. Uma visao que ainda espero ter o privilegio de ver por muitos dias...

sexta-feira, 30 de julho de 2010

II Curso em Ornitologia e Conservacao de Aves, Sao Tome

E como se ja nao tivesse bastante que fazer por Sao Tome, acabei por me por a dar um Curso em Ornitologia e Conservacao para santomenses.
Apesar de ja ter o tempo apertado para acabar o meu trabalho de campo, sobretudo gracas a minha querida fera, tem valido bem a pena!

Para treinar tecnicas de censo de aves, os alunos tiveram que descobrir uma serie de especies novas para a Ciencia ao longo de uma das Avenidas da capital!

Os alunos teem sido muito aplicados, pelo que, leve leve, estao a conseguir superar dificuldades (a escolha de uma foto da aula sobre GPS nao foi ao acaso).

Ontem, para minha recompensa, completei a caderneta de especies endemicas com o Anjolo (Serinus concolor, na foto). Os alunos conseguiram descobrir um novo local para uma das especies de aves mais ameacadas do planeta (chegou a ficar cerca de 100 anos sem ser vista).

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Cenouras em fogo - Vivências do Mé Zóchi rural (a caminho da capital)

Nada como uma descida de táxi até à capital para me animar, mesmo no dia em que descobri que as peças que há umas semanas atrás tinha mandado vir de Portugal para o meu carro foram substituídas, sem meu conhecimento, por pedaços de lata de refrigerante!


O táxi, um carro ligeiro, vinha completamente a abarrotar: motorista mais duas pessoas nos bancos da frente, quatro pessoas (eu mais 3 senhoras avantajadas) nos bancos de trás e o oitavo passageiro (que por acaso nem era extraterrestre nem nada) no portabagagens com a carga. Há ainda que referir que, mesmo para a média do estado de conservação do parque automóvel santomense, este táxi estava podre. E não digo isto apenas por raiva de a minha viatura não funcionar: a ferrugem já tinha consumido partes consideráveis da chaparia, a andar o carro fazia um barulho ensurdecedor, os vidros só abriam a alicate e a ignição só funcionava com chave de parafusos!

O tema da conversa não podia ser mais típico da ruralidade do Mé-Zóchi: O preço da cenoura no mercado, que neste dias chega a 60 contos o quilo (um conto são 1000 dobras e um euro vale 24500 dobras – e sim um milhão de dobras não chega a 50 euros, perguntem porquê ao Banco Mundial). A zona da Monte Café, no distrito de Mé-Zóchi, tem uma produção hortícola muito importante para o abastecimento do mercado na capital, em especial de produtos que preferem climas um pouco mais frescos (batata, feijão, cenoura, tomate). A indignação dos passageiros do tal táxi dirigiam-se sobretudo à especulação que é feita pelas palaiês (vendedoras ambulantes de vegetais, mas tambem peixe, frutos, sumos, doces ...). A prática corrente é que as mulheres dos produtores se desloquem bem cedo (uma/ duas da madrugada) para a cidade, onde vendem os produtos a intermediários (como as palaiês) ou para elas próprias venderem os produtos no mercado (Por isso é frequente ter que acordar a pessoa que queremos que nos venda qualquer coisa no mercado).


Ora, ao que parece, as palaiês são comerciantes bastante agressivas, que para além de terem uma grande conversa para convencer os fregueses a adquirir os seus produtos, mentem com uma leviandade desarmante em relação ao verdadeiro preço e qualidade dos produtos que podem oferecer, bem como sobre qualquer acordo prévio que possa ter existido!
E na gravana (altura seca do ano que está agora em vigor) esta especulação, que também não acredito ser só devida às palaiês, tem efeitos devastadores sobre os preços e capacidade de escoamento dos produtos no mercado, exaltando os ânimos de toda a gente (produtores, comerciantes e consumidores). E apesar disso a conversa deixou-me mesmo bem animado, porque até a situação mais revoltante estas pessoas conseguem encarar com bom espírito e muito leve leve. Obrigado pessoal do Mé-Zóchi, vocês são mesmo uma lição de vida!

sábado, 3 de julho de 2010

Tristes tropicos...

Estes nao teem sido dias faceis por Sao Tome.


Para se juntar ao stress da recta final do trabalho de campo, vem o desanimo com o estado da conservacao por estas bandas. Sera que sou assim tao pessimista ou o futuro desta ilha nao se afigura nada risonho, apesar dos sorrisos que persistem no rosto dos santomenses?
Talvez esteja apenas a atigir a minha capacidade de estadia na ilha! Espero que sim...

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A Lei do Chicote – Vivências do Mé Zóchi rural



Para além das Leis criadas pelos Estados continua a haver por esse mundo fora, muitos tipos de leis. E embora a sua aplicação geralmente não abone muito em favor do bem da sociedade como um todo, há que reconhecer o valor que essas leis têem para tornar o nosso planeta mais diverso e, por conseguinte, mais interessante. Ele há a lei do mais forte, a do desenrasca, a da selva, a do salve-se quem puder, as de Murphy, ... Enfim nunca mais acabam.


Aqui em São Tomé muitas destas leis ainda imperam sobre a Lei definida por Decreto. E no Mé Zóchi (o Distrito da ilha em que estou a morar e cujo nome resulta de uma corruptela de Manuel Jorge, um dos rios do Distrito) rural, mais do que todas é a lei do chicote que mantem a ordem, impedindo que se abra uma verdadeira caixa de Pandora sobre estas terras.


Talvez mesmo por serem terras abençoadas pela Natureza, a tentação da vida fácil é por aqui bastante forte! A água abunda, as terras são férteis e possui um clima propício para culturas, sobretudo café arábica (o mais caro) e hortícolas, o que lhe da uma vantagem sobre outras regiões do país em termos agrícolas.


Ora, para evitar que os ladrões se espalhem nestas bandas como uma praga, existem grupos populares que capturam, julgam e executam as penas sobre quem quer que seja apanhado a pôr a mão naquilo que não lhe pertença. Pode parecer um pouco arbitrário à primeira vista, mas não é. Existe um grupo de representantes a que é reconhecida a legitimidade de aplicar as penas e é feita uma investigação dos indícios do crime, um julgamento e só depois é aplicada a pena, consoante a gravidade dos factos comprovados. Aliás estes julgamentos mostram um espírito de união e uma capacidade de defesa da ordem, como é difícil encontrar noutras zonas de São Tomé.
Agora, já as penas essas são terrivelmente cruéis e, talvez reminiscências do tempo do esclavagismo, os ladrões são sujeitos ao chicote. E não é chicote a brincar. As chicotadas que saiem destes julgamentos populares são para não deixar o criminoso sair de lá a andar e, vezes há em que o chicote chega a matar o criminoso. Por isso imaginem a violência! É o que dá ter a vitima a servir de carrasco.

(Era suposto ter uma foto da Cascata de S. Nicolau aqui, mas a Internet embirrou com ela)
O medo do chicote é tal que se conta que, para fugir de um grupo de populares enraivecidos, houve um ladrão que saltou da cascata de S. Nicolau. Deve ter sido uma cena tipo “O Fugitivo”, mas asseguro que o fim da queda foi bem menos simpático que o do filme, porque mesmo que tenha caído na poça, esta não tem mais do que 2m de profundidade. Ao que dizem, aquele assim escapou-se ao chicote, mas nunca mais se atreveu a roubar...

Verdade é que o número de roubos depois destes julgamentos desce a pique. Pois, imagino que sim... E as pessoas que plantam nestes terrenos com o suor de todos os dias podem voltar a dormir descansadas, sem se preocuparem com aquilo que abandonaram nos campos para uma noite de descanço. E a própria polícia, talvez por reconhecer a legitimidade da justiça popular face a ineficiência da Justiça propriamente dita, não intervem no sentido de desmanchar estas perseguições. Aliás, já houve um chicoteado que acabou por morrer na Polícia, e nunca houve investigação para determinar quem foi o assassino!


Para além deste chicote de lei, o chicote faz mesmo parte do dia a dia do Mé Zóchi, como quando uma criança se porta mal e é ameaçada de chicote. Claro que este chicote não é bem o mesmo dos julgamentos, mas existe, e para além de ouvir falar dele, já o vi a ser aplicado e há que admitir que mesmo assim é bastante cruel. Pelo menos na perspectiva de um europeu...

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Samangugu

Elena, e como o prometido e devido, este post e em especial para ti...

Nao ha muitos animais em Sao Tome que sejam capazes de meter medo. Ate a cobra-preta, que tem uma mordedura potencialmente letal, tem um temperamento tao docil que dificilmente se pode dizer que e um animal aterrorizador. Ok, sempre que encontro uma no mato o meu coracao acelera, mas depois ela esta la na sua vida e eu passo-lhe ao lado e tambem vou a minha vida. Ja por um par de vezes quase pisava uma e nao foi isso que me tirou o sono...

Agora a Samangugu, a tarantula gigante de Sao Tome (tenho ideia que li em algum lado que e a segunda maior aranha do mundo), para alem da mordedura venenosa tem um comportamento verdadeiramente repreensivel. Eu tenho-me fartado de ver buracos que presumo que sejam delas (aparentemente trata-se de uma especie bastante comum), mas ate agora ainda nao tinha visto nenhuma. Como sao nocturnas e vivem em buracos bastante fundos nao e muito facil encontra-las, nem mesmo apesar do tamanho XXL!

Mas, farto de ouvir falar deste bicho, e de como havia em todo o lado, decidi pedir ao Ze (que trata do jardim la de casa) para me apanhar uma. Segundo ele, uma vez apanhou mais de cem para vender a um coleccionador. E foi dinheiro facil...
Ora aqui esta a beleza que ele me trouxe durante esta semana:
E para provar o mau feitio e o tamanho (la por tras esta uma moeda de 0.20€). Reparem so no tamanho daquelas queliceras. Cada vez que mexia no balde ela levanta-va as patas nesta posicao e atacava, fazendo um ruido ameacador. Ao que parece quando ela pica ja so sai com machim (catana)!

A samangugu definitivamente nao esta na minha lista de animais simpaticos, e nem ser endemica lhe vale. A partir de agora vou me lembrar dela sempre que andar descalco ou de chinelas pelo quintal!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O terceiro Kauiri (e outras bichezas)

Pois e, parece que a noticia de bolas por doninhas se esta a espalhar como fogo, e esta semana consegui deitar as minhas garras a mais um kauiri (ou doninha)!
Tambem ha duas semanas me trouxeram mais um musaranho (Crocidura thomensis). Infelizmente ja estava morto, mas assim ainda ha-de ser mais util para tentar perceber se esta especie e efectivamente distinta das suas congeneres continentais.
E pura especulacao (nao percebo muito de mamiferos), mas parece-me que este bicharoco e bem grandinho. Pelo menos a comparar com os musaranhos que conheco da Europa. Talves seja mais um gigantismo para Sao Tome?

O focinho deste animal e espetacular! Bem comprido, cheio de pelos e com um nariz muito estranho. Tem toda a pinta de orgao sensorial, por isso nao admira que tenha aqueles olhinhos de toupeira...

E devo andar mesmo cheio de sorte, nao so pelos bicharocos que me estao a trazer, mas tambem pelos que eu encontro (sim, tambem consigo sozinho...). Esta osga (que pertence ao genero Hemidactylus, mas ainda nao tenho a certeza do nome exacto da especie) e outros dos endemismos gigantes de Sao Tome. Nao sei se e muito grande para o genero, mas para o meu conceito de osga ja e bem grande. Maior que um palmo!O ano passado havia uma que, volta nao volta, me entrava pelo quart a dentro, mas (ela que me desculpa) nao era tao gira como esta das fotografias! Confiante da sua camuflagem, ela deixou-me fazer umas boas macros. Encontrei-a no tronco de um Pau-fede (Celtis sp.), numa plantacao de sombra na zona de Monte Cafe. Nao e gira?

Finalmente, tambem ha que reconhecer que as vezes sao os bichos que me encontram. Este milipede engracado, mas muito pequenino, entrou-me pela casa adentro!
Este escaravelho gigantesco veio a voar e pousou-me em cheio na orelha, para o panico de toda a gente que estava a minha volta. Aparentemente morde que se farta e tive que sorte em nao ter sido mordido. De facto mandibulas nao lhe faltam... Tive que convencer a multidao para poupar a pobre criatura e ela la voltou a sua atarefada vida de bicho.

No Obo

Durante o ultimo mes tenho andado bastante atarefado a tentar acabar a caracterizacao dos pontos para o meu trabalho. E um trabalho bastante duro. O dia inteiro a medir, contar e identificar arvores pela ilha quase toda, mas ha que reconhecer as vantagens. E uma delas e, com certeza a de poder visitar a ilha de Sao Tome em regioes onde quase ninguem vai (excepcao feita aos cacadores, a uma mao cheia de turistas e cientistas muito aventureiros e, em alguns sitios tambem aos vinhanteiros e madeireiros). Essas zonas mais inospitas estao muitas vezes repletas por uma fantastica floresta, a que aqui se chama de Obo. E e aqui que vivem alguns dos seres que vao trazendo cientistas da todo o mundo a estas paragens, porque sao endemicos, unicos no mundo!
Do Obo, que so por si ja quase so existe em zonas bastante ingremes, surgem muitas vezes agulhas vulcanicas. Picos subitos, que testemunham a origem vulcanica da ilha e que dao uma ambiencia muito particular a esta floresta. Na imagem: em primeiro plano o Rio Lemba, a menos de 100m de altitude; o pico mais proximo nao tem nome, mas dista uns 1700m do sio onde foi tirada a foto e tem 435m de altitude; ao fundo o Pico Zagaia dista quase 8km e atinge os 942m de altitude.
Em 2008 um grupo de micologistas da California Academy of Sciences, fez uma amostragem dos fungos existentes no pais. Estava listada uma mao cheia de especies para Sao Tome e nenhuma para o Principe. No final estes cientistas sairam daqui com umas duas centenas de especies, uma delas era nova para a ciencia e foi recentemente eleita uma das 10 especies do ano (ver o blog das expedicoes nos meus links). E existem muitas que concerteza permanecerao por descrever por muito mais tempo...

E mesmo as especies que ja foram descritas vao pregando as suas partidas. Em Sao Tome sao reconhecidas duas especies de Hyperolius, das quais podem encontrar fotos no blog das expedicoes da CAS. Agora digam-me a qual das duas pertencem estas criaturinhas que eu encontrei a reproduzirem-se numa zona de “floresta primaria” a 400m de altitude? E ja agora tambem a que aparece em monachus.blogspot.com! Eu consigo perceber qual das duas pode ser...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O segundo Kauiri

Nao sei se se lembram dessa minha aventura do ano passado, mas um dos meus objectivos extra da minha visita a Sao Tome era apanhar exemplares de doninha para tentar perceber a origem desta especie introduzida, e se desde a sua introducao teriam ocorrido alteracoes morfologicas em relacao a populacao do local de origem.

Ora, ha algumas semanas, enquanto tomava o pequeno-almoco nas traseiras da minha casa, passou por mim um destes animais, localmente conhecidos por aleluia ou kauiri. E depois de quase um ano de ter apanhado um, o espalhar mensagem deu resultado e consegui finalmente deitar mao a outra doninha. Desta vez viva!

O animal foi apanhado numa cozinha na Roca de Monte Cafe. Desconfio que nao estava na melhor condicao fisica e deve ter achado que a tal cozinha seria um bom sitio para apanhar uma comidinha. A verdade e que ate ganhou uns peixinhos de recompensa, para se ir entretendo durante a sua curta estadia em cativeiro.

Amostrar esta criaturinha foi muito emocionante. Primeiro, e como o meu carro continua na oficina (longa, longa historia), tive que ter a ajuda de um motoqueiro para levar para casa o animal e a mega gaiola em que estava. A gaiola era tao grande, que para dar curvas apertadas o motoqueiro nao consegui rodar o volante, e a mota tinha de estar quase parada para a manobra ser feita com a ajuda dos pes no chao. Um verdadeiro exemplo de conducao santomense!
Depois tive que o mudar para uma gaiola mais pequena e anestesia-lo com eter. Foi dificil adormece-lo, mas la consegui e deu para tirar medidas, peso, fotos e ate um pedacinho de orelha para analise genetica!

O pobre exemplar sob o efeito de eter.

E a acordar, ainda um pouco atarantado.

Finalmente o animal la acordou e foi libertado, nao sem antes dar mais uma trinca nos peixinhos...



terça-feira, 6 de abril de 2010

Estar fora, sem sair da ilha....

E apos um longo interregno, aqui vos deixo as culpadas do meu silencio: VISITAS! E logo tres de uma vez. Que bom.
Durante uma semana e mais uns dias soltos andamos a descoberta da maravilhosa ilha verde. Percorremos todas as estradas, enfrentando os mais diversos perigos.
Andamos por praias desertas.
Atravessamos a selva

E, e claro, sempre na companhia de muitos amigos, de todas as idades...

Obrigado pela visita, pelo descanso que me obrigaram a ter e por terem sido incansaveis, ou para ser verdadeiro, so as vezes um poucos cansadas...

Sao Tome esta cheio de saudades vossas, mas em especial a Nova Moka!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Terrivel alianca

Ora de entre os bichos chatos de Sao Tome (centopeias venenosas, ouricos-de-mar que dao febre, cobra-preta, moscardos), nao se pode deixar de falar na alianca.

Nao sei quem se lembra daquele episodio do Macgyver com as formigas assassinas que atacavam e matavam pessoas (era o meu preferido, ate voltar a ver uns anos depois e pensar que afinal era das maiores estupidezes que ja tinha visto na minha vida). Pois estas nao sao tao letais, mas muito incomodas...Geralmente sente-se a sua picada antes de a ver, porque e minuscula! Entao imaginem o que, nesta clima quente e humido em que uma pessoa ja esta a suar que se farta, quando abanamos um ramo e nos caiem em cima uma multidao de formigas que, enquanto se afogam no nosso suor, se defendem com umas picadas ardentes. Nao e nada bom, acreditem.

Tudo bem, venho-me meter no meio de uma floresta tropical humida e agora estou-me a queixar... Pois bem, o pormenor irritante destas pequenas criaturas e que sao introduzidas. Ora, o dono da roca “Alianca” (dai o nome das formigas) decidiu que estes insectos iam proteger os seus cacaoeiros dos ladroes de cacau e como tal decidiu introduzi-los, sabe-se la de onde. Ja agora, agradece-se a quem as saiba identificar. Sei que a foto nao e muito boa, mas estou curioso!

Nao gosto de desejar mal a ninguem, mas este senhor, com a sua ideia brilhante nao merece que lhe tenham acontecido muitas coisas boas. Ainda para mais porque, imagino, nao devia ser ele que andava nas plantacoes a apanhar cacau...

Terra da fruta e dos frutos

Sao Tome e terra de abundancia, e se ha coisa que simboliza bem isso devem ser os frutos! A maior parte das plantas tem frutos carnudos. Muitos dos frutos ficam nas arvores ou caiem e apodrecem no chao sem que haja gente ou bichos suficiente para os apanhar. A diversidade (e qualidade) nao tem fim: ananas, jaca, untue, safu, maracuja, goiaba, manga, laranja (que nao e cor-de-laranja, mas verde), melancia, toranja, anona, sap-sap, cajamanga, salamba, abacate, cacau, cafe, morango, isaquente, caroco, coco, carambola, papaia...

Uma das arvores de fruto mais abundante de Sao Tome e talvez a fruteira, que da fruta-pao, ou simplesmente fruta! Que e muito boa assada com peixe... Atencao aqui pede-se salada de frutos e nao de fruta! De entre tantos frutos tambem se destaca a banana. Existem diversas variedades: ouro, prata, maca, ana, varla, gran michel, pao... E da para comer assada, frita, madura, cozida, seca. Enfim!

E, e claro, o mangustao! O melhor fruto do mundo. Um titulo talvez um bocado exagerado, mas la que e bom que se farta e verdade. E tambem e bem caro, porque so cresce em 2 ou 3 sitios...


E nesta terra tambem ha muito fruto para bicho comer. Para alem dos anteriores, com os quais eles tambem se alambuzam, ainda ha mais uma miriade de frutos do mato: pau-branco, pau-caixao, pau-sangue, gofe, schefflera, obata, mussanda, catas,...


Com isto tudo, da para acreditar que um dos frutos mais apreciados (e bem pagos) sejam peros amarelos importados de Portugal? Eu nunca gostei daqueles peros, por isso e um verdadeiro enigma este fascinio dos santomenses por tal fruto!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Piquenique a santomense




Ja foi ha uma semana, mas acho que nao posso deixar de relatar a minha primeira ida a um piquenique santomense. Foi por convite da Cecilia que acabei por ir a celebracao um mes atrasada do ano novo, pela comunidade da Aldeia (perto da Nova Moca, onde eu moro).
Ora, os piqueniques santomenses sao um fenomeno social com muitos adeptos e que decorrem geralmente em epocas especificas do ano, como no Ano Novo e noutros feriados! E decorrem na praia, embora o banho de mar seja mais para as criancas (os adultos por aqui nao sao grandes apreciadores, apesar do mar quentinho e convidativo). Teem que haver quantidades industriais de comida e bebida e geralmente sao organizadas dentro de uma comunidade ou grupo familiar, o que muitas vezes e praticamemnte sinonimo.
Com pontualidade britanica (ultimamente tenho esta expressao em descredito), as 7h30 de Domingo la estava eu na estrada em frente da Aldeia. Entre ultimos preparativos (ha que ir aperaltado para a praia), o agrupamento, seguido de desagrupamento as custas da tipica chuvada descomunal e a espera pelo transporte acabamos por so sair por volta das 10h. E a viagem ate a praia nao foi breve, nem livre de contratempos. O transporte era uma carrinha tipo Dyna, que ficou completamente sobrelotada de pessoal (talvez 40 pessoas). Houve paragens para tudo: abastecer de combustivel, abastecer de vinho de palma e cerveja, aparafusar o pneu, outras so para ter a certeza que o pneu ainda nao tinha fugido (nao percebo muito de carrinhas, mas suponho que nao e normal ter um pneu do lado esquerdo e dois do lado direito, por isso suponho que o da esquerda ja tivesse fugido). A viagem la se fez, pelas tortuosas e esburacadas estradas santomenses, ainda para mais que tivemos que evitar a capital onde estava a haver uma mega procissao, e chegamos a praia de Morro Peixe mesmo a hora de... comecar a comer! Exacto, os santomenses teem um conceito muito proprio de praia.
Eu la partilhei do espirito e comi uma das deliciosas comidas que a Cecilia levou (Lussua, mmmm), mas nao muito porque estava demasiado calor para nao estar desejoso de me enfiar dentro de agua. Passado algum tempo la me fui enfiar dentro de agua, a procura de peixes com os meus oculos maravilha... Fantastico, adoro andar a snorklar pela praia. Ve-se mesmo montes de bicharada debaixo de agua. Mas desta vez ja aprendi e sai a tempo de nao ficar com as costas tostadas pelo sol.
E para alem da boleia, tambem paguei a minha participacao no piquenique com foto! (Que ainda tenho de ir revelar, ou “lavar” como se diz por ca.

Aqui fica o registo da participacao do brranco no piquenique da Aldeia em Morro Peixe, acompanhado pela familia da Cecilia (de oculos escuros).

No caminho de volta ainda tive direito a uma surpresa! No caminho de volta de Morro Peixe para Guadalupe, um cacador de Lagaia. Nao fazia ideia que o bicho fosse daquele tamanho. A descricao de uma gineta menos arborea e maior e bastante boa, mas nao deixa antever o tamanho do animal. Ainda por cima este era pequeno para a media! O bicho foi apanhado numa armadilha e estava a ser levado para ser vendido no mercado de Guadalupe pela mae do cacador.
O cacador de lagaia, de seu nome Branco (nao me parece muito apropriado), com a sua captura!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Pico tem andar

Pois, finalmente subi ao cume da ilha: Pico de Sao Tome – 2024m de altitude.

E para la chegar tem andar, tem subir e descer e muito escorregar, mas no fim vale bem a pena. Sao uns meros 12km, que se fizeram bem longos e se extenderam por um dia inteiro de caminhada!

Apesar de nao ter tido muita sorte com o tempo, ja deu para perceber que num dia limpo a vista de la de cima tem que ser absolutamente fabulosa. Da para ver a ilha toda!

E, nao contente com o Pico de Sao Tome, ainda desci ate ao Pico Pequeno, para recolhe amostras de Urze (Erica thomensis). Esta planta esta confinada as zona de maiores altitudes de Sao Tome, nao existindo em nenhum outro lugar do mundo e apesar desta distribuicao tao restrita, nao consta da lista vermelha de especies ameacadas. O meu objectivo foi recolher umas amostras para analise genetica, num estudo de revisao da taxonomia do genero Erica, mas com sorte ainda consigo que a lista vermelha reconheca a vulnerabilidade desta especie!

E depois sao “so” mais 12km de volta...

De volta a floresta

E bom estar de volta a Sao Tome e ter o privilegio de visitar estas florestas cheias de criaturas maravilhosas, e quase todas bem simpaticas...

Algumas delas vao revelando umas surpresas, como esta lesma com descensor incorporado. Lentamente tecendo um fio viscoso, quando encontrei esta lesma ja tinha descido uns bons 2m da vegetacao em direccao ao solo. Tecnologia de ponta...

E com as criancas na escola e as aves em epoca reprodutora, tenho a sensacao que as aves tambem estao um pouco mais aventureiras. Este Tome-gaga pelo menos esteve mesmo a pedir foto...