domingo, 28 de junho de 2009

Fruta da burrice

A fera (nome pelo qual carinhosamente passou a ser conhecida a minha viatura) anda numa maré de azar que não tem explicação...
Depois de uma semana inteira no mecânico, a primeira vez que vai para o campo fura um pneu e volta a partir as molas. É claro que não tínhamos o macaco e estávamos em S. José de Bindá (o fim do mundo, muito depois do fim da estrada), e levámos umas boas três horas a mudar o pneu para descobrir que o sobresselente também estava meio furado. Depois de uns bons 25km de caminhos rurais em muito mau estado, estradas esburacadas e, há que reconhecer, o único trecho de estrada em condições na ilha inteira lá conseguimos arrastar a fera até Neves para safar um dos pneus. Neves é a cidade industrial, mas tendo em conta que uns dias antes não havia petróleo na cidade, já foi uma sorte conseguirem tapar um dos furos, para conseguirmos chegar a casa. Ter o trabalho pronto às 10h da manhã para depois demorar 8h para percorrer 65km de estrada é um bocado frustrante, mas mesmo assim foi bom finalmente conseguir chegar...
Já na semana seguinte, assim que volto para trabalho de campo: novo furo! E apesar de já ter macaco, ainda não tinha sobresselente em condições, pelo que tive que arrastar o pneu por uns 2km ao Sol até encontrar o Leonel. E depois uma mota para levar o pneu até Micoló, onde por peripécias várias, demoraram mais de 3h a tapar oS furoS do pneu. Irritado com os pneus sempre a furar, decidi ir para a capital à procura de pneus, não novos mas pelo menos em melhor estado. E assim que paro para ir a uma loja de pneuis usados: novo furo! Tapar furos na cidade sai rápido, mas já sem paciência, decidi deixar um dos pneus furados a tapar e ir para casa. Mais um dia a chegar quase de noite a casa, depois de acabar o trabalho às 10h da manhã. Obviamente que no dia seguinte: novo furo! Que raiva... Lá fui eu comprar um pneu novo, por causa das coisas. E fiquei com um sobresselente em bom estado da Mariana. Para voltar a ter o carro com os pneus mais ou menos em ordem (ainda sem o pneu novo) conseguiram fazer-me perder dois dias!!!! É nestas alturas que o leve leve não cai nada bem.
Sexta-feira consigo finalmente voltar para o trabalho de campo e não ter nenhum furo. Mas para compensar fiquei com o vidro da frente partido. É claro que teve que ser na situação mais absurda. Parei o carro debaixo de uma fruteira com uns 5m de altura para fazer um ponto de contagem de aves e há um parvo de um miúdo (ao qual até tinha prometido boleia, assim que acabasse a contagem) que decide subir à árvore e atirar com a ÚNICA fruta-pão que lá estava ao vidro da frente. Ainda veio falar comigo para explicar o que se passou, mas eu optei por continuar a contagem, para pelo menos não perder o trabalho! E não é que quando chego ao carro o vidro não estava só “estralado”, como ele disse, mas partido. E entretanto ele já se tinha escapado. QUE RAIVA!!!!!!!

É nesta bela figura que se encontra a minha pobre fera. Desgraçado, aproxima-se a passos largos do estado miserável da média do automóvel santomense... Vamos lá ver o que lhe conseguem fazer num fim-de-semana alargado na oficina, que para a semana temos mais trabalho para fazer no escafundó de Ribeira Peixe!

Visitas...

E por estes dias recebi finalmente visitas em São Tomé. Não é que tenha tido o tempo que queria para aproveitar a oportunidade para laurear a pevide, mas é sempre bom ter alguém diferente com que conversar e andar por aí a desfrutar as coisas boas da ilha, a passarinhar descontraidamente.

A fazer de turista na cascata de S. Nicolau – Francisco, Joaquim, Zélito e eu (foto da Alexandra).

Obrigado pela visita e bom regresso à “civilização”. Foi bom ter alguém diferente com quem falar e que tenha a mesma noção de lógica que eu! Por aqui dá para ter a sensação de que quem deve ter perdido a noção de realidade fui eu, e de que não são os santomenses que têm uma percepção “muito própria” da realidade.
Fico à espera dessas fotos!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Onde a fisga não chega.

A semana passada, e com os pes finalmente recuperados, comecei o trabalho na zona Sul da ilha, que e tambem a mais inacessivel. E decidi investir primeiro na Costa Oeste, mais concretamente em S.Jose de Binda! E apesar da distancia e dos contratempos, acabamos por conseguir fazer tudo o que era suposto em apenas 3 dias.

Atravessando o Rio Lemba. Nao quero imaginar como vai ser este rio na epoca das chuvas...

E a inacessibilidade tem das suas vantagens. Aparentemente nesta zona nao se usam muitas fisgas e a passarada e muito mais confiante. As aves aproximamdo-se de uma forma impensavel para a maior parte da ilha, onde tambem e quase impossivel passar 3 dias sem ver pelo menos uma crianca de fisga em riste! E assim pude tirar umas belas fotos, mesmo sem sair da casa onde ficamos...

Macho de Camussela (Ploceus grandis).

Tordo (Turdus olivaceofuscus) apanhado em flagrante a atacar um mamao!


E ate as borboletas me pareceram muito mais atrevidas...

(Agradeco se alguem souber identificar...)

Adeus montanha

E finalmente o trabalho na area de montanha esta terminado...

Nao sem antes voltarmos a esbarrar com outro chininha, que cada vez me parece menos criticamente ameacado...

Chininha (Crocidura thomensis) – Este desgracado viu a ponta da cauda amputada a machim, em nome da Ciencia. Se tudo correr bem, sera feito um estudo para comprovar a validade desta especie e esclarecer as suas origens e grau de diferenciacao de outros musaranhos.

E lembram-se de um certo tractor que se atravessou no meu caminho. Pois bem, tambem o voltei a ver, mas desta vez nao se pode atravessar no meu caminho! Estava completamente partido na berma da estraad e carregado de madeiras roubadas da floresta. Curiosamente parece que este tractor ate e do estado. E diz Grupo FERPINTA, os meus grandes “amigos” dos tempos do Tejo Internacional!

Um prazer de foto

sábado, 6 de junho de 2009

Olh’ó passarinho (especial passarinhólogos, de São Tomé)

E há muito que já estava a dever uma lista das aves vistas por São Tomé:


Nome cientiífico
Nome Comum
Estatuto


Oceanodroma castro
Caninboto
N?


Phaethon lepturus
Concozuco
N


Phalacrocorax africanus
Pata d'áua
?


Bubulcus ibis
Garça
E?


Butorides striatus
Tchonzo
N


Egretta gularis
Garça-marinha
R?


Egretta garzetta
Garça-branca
M?


Bostrychia bocagei
Galinhola
**


Milvus migrans
Falcão
N


Numida meleagris
Galinha-do-mato
N


Coturnix delegorguei
Codorniz
*


Francolinus afer
Perdiz
?


Actitys hypoleucos
Maçarico-das-rochas
M


Treron sanctithomae
Céssia
**


Columba malherbii
Rola
**


Columba larvata
Mucanha
*


Columba thomensis
Pombo
**


Columba livia
Pombo-doméstico
E


Streptopelia. senegalensis
Curucúcu
E


Agapornis pullaria
Piriquito
N


Chrysococcyx cupreus
Ossobô, Pionguê
*


Tyto alba
Coruja
*


Otus hartlaubi
Kitóli
**


Zoonavena thomensis
Andorinha
**


Cypsiurus parvus
Andorinha, Ferreiro
?


Apus affinis
Pascucha
*


Coythornis cristata
Conóbia
*


Hirundo rustica
Andorinha
M


Turdus olivaceofuscus
Tordo
**


Prinia molleri
Truquí
**


Amaurocichla bocagii
Suim-suim-d'Obô
***


Terpsiphone atrochalybeia
Tomé-gagá
**


Dreptes thomensis
Serelê-mangotchi
**


Anabathmis newtonii
Serelê
**


Zosterops feae
Neto-de-olho-grosso
**


Zosterops lugubris
Olho-grosso
**


Oriolus crassirostris
Papa-figos
**


Onychognathus fulgidus
Pastro
*


Ploceus velatus
Nário, gungo
E/*?


Ploceus cucullatus
Nário
E


Ploceus grandis
Camussela
**


Ploceus sanctithomae
Tchim-tchim-tcholó
**


Euplectes albonotatus
Viúva-de-asa-branca
?


Estrilda astrild
Casqueque
E


Uraeginthus angolensis
Suim-suim
E?


Lonchura cucullata
Bico-preto
?


Vidua macroura
Viuvinha
?


Serinus mozambicus
Canário
?


Serinus rufobrunneus
Pardal
**

No estatuto: ? – Incerto; M – Migrador; E – Exótica; R – Residente; N – Nativo; * - Subspécie endémica; ** - Espécie endémica; *** - Género endémico.


Das espécies de ocorrência regular ficam a faltar duas endémicas (Enjoló e picanço) e 3 exóticas (Papagaio e duas do género Euplectes).

Nada mau tendo em conta as adversidades da ilha. O clima e o relevo tornam as viagens pela ilha muito difíceis...

Entretanto, o Pombo que levou tanto tempo a encontrar, agora até já se deixa fotografar. Segundo o pessoal daqui a época dele começa agora!
(Onde é que sera que eles se metem durante o resto do ano?)

Poster

Acho que ainda nao expliquei muito bem o que afinal me traz ate Sao Tome. Por isso aqui fica um poster elucidativo, feito de um dia para outro (em que milagrosamente houve energia):

Dos pés até à cabeça

Não há pomada, água oxigenada, repouso, calçado ou Sol que me valham. As feridas nesta terra não saram! E já me dou por bem contente pelo estado em que as feridas dos meus pés estão, passadas quase 20 dias do início do massacre.

Com engenho, fita-cola e papel higiénico, as feridas vão melhorando. E finalmente já não incham e posso andar e recomeçar o trabalho de campo! Mesmo a tempo de gozar o início da gravana (época quase seca...).

Mas é claro que com os pés quase bons, me tinham que aparecer uma feridas misteriosas. Desta vez na cabeça. Ao menos estas não impedem o trabalho!!!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Burrocracias

Os santomenses teem uma tendencia para acentuar os “erres”, mas em nenhuma outra palavra devem acentuar tanto como em buRRocracia. Ja por varias vezes tive as minhas aventuras pelas complicadas papeladas santomenses: ter de ter numero de seguranca social para abrir conta no banco, dias e dias a correr de um lado para o outro para pedir a extensao do visto, mas tudo culminou no reconhecimento de assinatura no cartorio. Nao e que me reconheceram a assinatura, sem a comparer com nenhum document original! Da proxima vou assinar Rato Mickey, para ver se eles tambem reconhecem...
A minha assinatura reconhecida. Reparem no pormenor da reciclagem dos selos fiscais, em funcao da inflaccao ridicula que a dobra sofreu nos ultimos anos....